Vocês já ouviram falar da história de "O
Médico e o Monstro"? Dr. Jekyll, um bom e velho camarada, após tomar um
soro, consegue isolar sua segunda personalidade, Hyde, cruel em sua natureza.
Recentemente minha mania de falar sozinho tem
piorado, e isso já não costumava ser bom sinal. Mas agora eu não falo
literalmente sozinho, eu falo comigo mesmo no espelho: é bom pra liberar certas
coisas, e tentar seguir meus próprios conselhos. Foi falando comigo mesmo, no
espelho, que eu me lembrei de uma cena da peça "Jekyll and Hyde"
onde o médico e o monstro conversam entre si, através do espelho. Não era uma
conversa particularmente amigável: Jekyll insiste em tentar encontrar a cura
para sua condição, e Hyde diz que os dois são inseparáveis, e que mesmo que
Jekyll morra, o monstro viverá para sempre.
Eu descobri, conversando com o espelho, que eu
tenho meu próprio Hyde, esperando pra acontecer. Se eu não ouvia meus próprios
conselhos, talvez ouvisse minhas próprias ameaças. É um cara aterrorizante que
botou o dedo no meu nariz e me disse que tudo aquilo que eu já consegui tudo o
que precisava, mas não estou nem perto daquilo que eu quero, e que se Jekyll
não consegue consertar minha vida, talvez Hyde consiga. E ele me pedia, do
outro lado do espelho, pra sair. Pra sair e resolver tudo.
Mas Hyde é tão diferente de Jekyll. Ele não
lutou por aquilo que as pessoas queriam, ele não melhorou a vida delas, e ele
provavelmente deixaria a maioria delas na mão. Mas talvez, e eu não nego essa
possibilidade, talvez a vida dele fosse um pouco mais satisfatória. Talvez ele
poderia ter aquilo que quer, sem que o mundo tirasse isso dele. Vou tentar ser
o Dr. Jekyll por mais um tempo.
Além do mais, eu não tenho o tal soro. Ainda.
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