segunda-feira, 26 de março de 2012

A minha Síndrome

Muitas pessoas (ou pelo menos algumas) têm notado a crescente falta de postagens esse ano. Grande parte disso se deve ao fato de eu estar gastando quase toda a minha criatividade na minha empreitada de terminar meu livro, "A Síndrome do Gênio". Dessa forma, decidi botar aqui um trecho dele, pra mostrar que eu não estou atoa, apenas colocando meus esforços em outra coisa, por enquanto. Aí vai:
"– Olha que casalzinho bonito... – diz Layla, com o cotovelo na mesa e a mão no queixo, olhando um menino e uma menina, com o uniform e da escola, voltando pra casa. – Tenho saudade dessa época de amor adolescente, sabe...
William olha pela janela, e vê o casal do qual Layla falava. Ainda com a boca cheia, sorri com os olhos. Depois de se desentalar com o café, resolve botar algum sal no soro caseiro de Layla:
– Eles não se amam... de onde você tirou isso?
– De onde eu tirei isso? De onde você tirou isso?
– Bom, pra começar, ele está abraçando o pescoço dela. – Layla olha novamente, e de fato ele estava. – Existem, em geral, quatro partes onde um cara pode abraçar uma mulher: pescoço, ombros, braço ou cintura. Cada um deles corresponde a uma atitude específica perante a pessoa que ele está abraçando.
Layla já estava apenas brincando de prestar atenção, mesmo assim William continua, agora gesticulando bastante:
– De baixo pra cima, cintura significa alguma chance de envolvimento, braço significa proteção, ombro significa igualdade, ou amizade, mas pescoço? – nessa parte ele faz questão de apontar para fora da lanchonete – Pescoço significa possessão. A coitada da menina ainda não deve ter percebido, mas é a forma mais desconfortável de se andar por aí com o namorado, perdendo apenas, por motivos óbvios, para o andar do mosquito.
– Andar do mosquito? – Layla agora resolve entrar na brincadeira, dado o tom de provocação de William nas últimas frases.
– Sabe, quando a menina anda na frente, e o cara vem abraçado por trás. Já tentou andar assim? É impossível.
A moça ri, percebendo que, de trás de William e longe do ângulo de visão dele, um casal tinha acabado de sair da escola usando o “andar do mosquito” que ele tinha acabado de descrever. Quando se apercebe disso, William olha pra trás e avista a cena. O riso de Layla dá trégua e se transforma em um sorriso simples e espontâneo. William se vira novamente.
– Você é incrível. – diz Layla, em meio a pequenos risos.
– Valeu. – responde William, tomando o último gole do café que ainda restava em sua xícara. Era hora de pegar a estrada novamente. Eles pagam a conta e voltam para o carro."

sábado, 10 de março de 2012

Mundo Noturno

Depois que as aulas recomeçaram, são raras as vezes em que não tenho acordado cedo, como qualquer pessoa normal, às sete da manhã. Meu horário normal não é esse. Eu vivo no horário do Pacífico, onde, pra quem mora no Brasil, as pessoas dormem às quatro da manhã e acordam ao meio dia. Há alguns dias, no entanto, aconteceu algo interessante, enquanto atravessava a famosa reta da UFV, indo para o meu amado Departamento de Física: as capivaras não tinham ido dormir ainda.
Se vocês se lembram, eu já falei delas antes (Ver "Martina") como minhas companheiras noturnas, de quando eu voltava pra casa de madrugada. Nesse dia, elas ainda perambulavam, em um grande grupo, em plena luz do dia, e de passagem eu via umas doze pessoas, paradas, olhando pra elas, algumas tirando fotos, fascinadas com aquela fauna viçosense, aparentemente desconhecida para elas. E eu, que as via todos os dias, pensei fazer parte de um mundo desconhecido. Se eu não fosse um ser humano, eu também seria um animal de zoológico, pois eu sou um animal noturno.
Mas agora estou de volta à rotina das pessoas normais, domesticado, mas ainda posso passar por Martina e companhia, e não achar graça, e não fotografar, e cumprimentar silenciosamente meu mundo noturno. Quando se trava uma guerra consigo mesmo, você sabe que, no final, vai ganhar alguma coisa, vai perder alguma coisa. Só não sabe quando ela vai terminar.