sábado, 26 de novembro de 2011

Amor, por Definição

"Tentarão lhe ensinar, em alguns dias, ou talvez em alguns anos, a diferença entre ter aquilo que precisa e aquilo que quer. Seu professor ou sua professora pode ser alguém de perto, ou alguém de longe. Pode ser alguém que compartilha exatamente as mesmas opiniões que você, ou entender que tudo o que você sabe está errado e precisa ser mudado. Pode ser alguém que vá te convencendo aos poucos, ou alguém que te enfie verdades garganta abaixo. Mas não é esse o problema: o que pode ser, no final, nem sempre é.
O problema é que, muitas vezes, é preciso ter olho clínico pra saber reconhecer a verdade: o medo te cega, a arrogância te cega, o orgulho te cega. Tive um amor que acabou cedo porque tive medo, porque fui arrogante e porque fui orgulhosa, e não pude ver que muitas vezes nos preocupamos tanto com o que os outros vão achar do que sentimos que deixamos de sentir, que deixamos nos levar pelo veneno do julgamento alheio, e muitas vezes o julgamento próprio. Ao longo dos anos, nossa cultura tendeu a suprimir o amor e a cultivar a necessidade de ser amado, e ainda punindo a correspondência a esse amor a ferro e fogo. O amor não só deixou de ser bonito, como deixou de existir, sendo substituído por uma simples palavra, um nome próprio perdido no tempo em que se fazia sem esperar nada em troca, em que zelo e paixão eram suficientes e necessários, hoje são necessários mas não suficientes.
Mas eu espero que algum dia você perceba essa verdade, e você redescubra o sentimento que realmente importa dentro de você, e que além do medo, da arrogância e do orgulho você possa ver a verdade. Amor não tem nada a ver com beijos, abraços ou sexo, tem a ver com o que te leva a fazer essas coisas, tem a ver com o que há no seu coração.
Alguém há de lhe ensinar, em alguns dias ou alguns anos, que ser amado é tudo o que você queria, mas amar é tudo o que você precisa."

Escrito por Leila Romano no caderno de Cálculo que ela deixou aqui em casa, em Vice City, e que com toda a sua timidez me deixou transcrever.

sábado, 19 de novembro de 2011

O Preço da Liberdade

Durante a chuva de quinta-feira, uma árvore caiu na minha rua, ou melhor dizendo, uma árvore da minha rua caiu, com isso, ficamos sem energia elétrica por quase cinco horas. Moral da história: lá vou eu pro telhado de casa pensar na vida. Quando cheguei lá, vi o estrago que a chuva tinha feito: uma bagunça sem fim, tudo espalhado e indubitavelmente sujo. As cinco horas que eu tinha pra gastar sem energia elétrica se foram na arrumação, e eu senti novamente o peso da responsabilidade com as minhas coisas.
Já se passaram cerca de quatro meses desde que estou, como minha mãe costuma dizer, abandonado aqui em Vice City, o exílio que se tornou minha casa. A vida se tornou bem mais fácil, e de certa maneira, eu sou mais livre pra fazer as coisas que sempre quis: desenhar um pouco, escrever um pouco, estudar um pouco, e isso sem depender de mais ninguém. O que importa disso tudo é que, arrumando a bagunça do meu terraço, eu percebi que muitas vezes liberdade tem tudo a ver com responsabilidade, só que a responsabilidade consigo mesmo. Todos os compromissos que assume são para tornar a sua vida melhor e a de mais ninguém.
Nesse sentido, posso afirmar que a gama de pessoas que acredito serem livres aumentou significativamente, afinal, qualquer coisa é maior que zero.
Foi assim que eu aprendi a assumir as responsabilidades certas comigo mesmo, e muito embora eu ainda tenho que me esforçar para ter a vida que eu acho que mereço, ela sempre será só minha, e isso é ser livre.

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

O Rei do Fundão

Eu terminei o Ensino Médio em 2004. Durante os três anos deste famigerado período escolar, eu sentei no fundo da sala, o que fazia muita gente perceber que a posição em que um aluno senta nada tem a ver com seu interesse pela aula. Sempre tirei boas notas, e tentei levar comigo duas ou três almas perdidas, que davam vida ao que chamávamos (e não sei se ainda chamamos), de "o Fundão".
O Fundão abrange os 25% das cadeiras que ficam mais afastadas do quadro, e é conhecido por se tratar de um espaço onde, aparentemente, ninguém estuda. Só que na minha época era diferente, o Fundão era digno de respeito quando se tratava de estudo.
Me lembrei daquele velho Fundão, na verdade, quando voltei para Vice City depois do feriadão. Quando eu comprei a minha passagem, dessa vez, tava tudo lotado. "Amigo, só tem corredor. Tem a 28, 34, 36...", "Me dá a 44." E no dia e hora do embarque, lá vou eu com a passagem da 44, la atrás, esperando entrar no ônibus lotado. O que aconteceu é que, como tinha muita gente indo de Rio Pomba de volta à Vice City, arranjaram um ônibus só pra gente, sem banheiro e com cinco lugares no fundo, e eu, acreditem se quiserem, era o único sentado da poltrona 35 pra trás. Eu era o fim do hiato, o dono das quase 12 poltronas que constituíam o fundo do ônibus.
Moral da história: eu usei três das cinco poltronas de trás do ônibus, dormi como um bebê, e nunca viajei de forma tão confortável. Eu fui, por duas horas, novamente o rei do Fundão.

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Encarceramento Voluntário

Eu matei algumas pessoas.
Se essa frase lhes faz pensar que eu fui longe demais, e que provavelmente deveria parar de ler agora, não se preocupe: eu matei algumas pessoas que eu criei.
Não sei se já mencionei isso em algum lugar (acho que provavelmente comentei sobre isso no blog da Aline Fernandes \o/ Ahora me toca a mi...), mas estou escrevendo um livro sobre a minha pseudo-doença, chamado "A Síndrome do Gênio". O fato é que meu manuscrito entrou, semana passada, no último capítulo da saga, e eu me vejo, pela primeira vez desde que iniciei essa empreitada nove meses atrás, há uma semana sem escrever absolutamente nada. Acho que sempre que eu escrevia, eu narrava coisas que aconteceram, ou deviam ter acontecido comigo, mas daqui pra frente meus personagens principais estão abandonados, e até mesmo eu me recuso a ir ao resgate deles.
Se havia algo que facilitasse amplamente a minha escrita, era o fato de que, no fundo, eu me sentia como eles. Eu me induzia a ser aquilo que eles eram, via o mundo da maneira que eles viam, e da perspectiva deles surgiam minhas idéias. Só que agora eles estão isolados, e o que eu posso fazer agora?
Estive em Belo Horizonte algumas semanas atrás, pra ver minha mãe, que já tem uma versão impressa do manuscrito até o momento e já rabiscou ele quase inteiro. Essa é a vantagem de ter uma pessoa crítica na família. O caso é que, nas quase 24 horas em que estive lá, ela me falou umas duas ou três vezes que eu fico meio que abandonado aqui em Vice City. Talvez seja bem verdade, mas talvez seja exatamente o que eu preciso.
Talvez esse encarceramento voluntário seja o que eu preciso para escrever o final, para terminar de contar a história, para ver se a resposta para a grande pergunta: "como o mundo funciona?" está mesmo à altura de minhas páginas.
Meio perdido, e meio em casa.