sábado, 15 de outubro de 2011

Desistindo Propriamente

"Então, Jardel... lembrei que você tava aprendendo a tocar piano no Ensino Médio. O que aconteceu? Desistiu?"
Na verdade, só aprendi o básico mesmo do piano, e aproveitei mais a teoria musical. Mas não é sobre a primeira parte da frase que quero falar, é sobre a segunda. Tenho pensado ultimamente no verdadeiro sentido do verbo "desistir". O dicionário define como: cancelar, interromper, abandonar. Eu defino como desfazer vínculos. Eu sei porque fiquei um bom tempo achando que tinha desistido de uma coisa, mas que estava sempre lá: isso não é desistir. Desistir é deixar ir, é se desprender. Aprendi que desistir é muito diferente de ficar olhando de fora e não tentar, porque por mais que você não tente, o vínculo ainda está ali; nas duas situações, você não tem como ganhar o objeto do seu desejo, só que quando você desiste propriamente, você está livre - a dor te abandona e novamente nos aproximamos da vida que podemos ter, aquela para os quais éramos cegos, surdos e mudos.
E eu levei muito tempo para entender o que era desistir, mas a lacuna que fica lhe dá a oportunidade de preenchê-la, quem sabe, com aquilo que você no fundo sempre achou que valeria a pena.

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Oceano Atlântico


Nunca deixe para fazer amanhã o que pode fazer hoje. Essa frase talvez seja a mais clichê que já tenha ouvido, e talvez o fato de ter se tornado tão comum tenha me feito deixar de notar a verdade que ela encerra. Eu vivo deixando coisas pra depois e isso vai, antes que eu perceba, atrasando a minha vida.
Eu digo isso porquê estive navegando por mares misteriosos no último fim de semana, indo ao Rio para o casamento da minha prima, e esse tipo de viagem (no qual eu inevitavelmente viajo com gente que eu conheço), me põe pra refletir um grande preço que eu pago pra fazer as coisas que eu faço. Já fazem três anos e meio de Blogger, estou escrevendo um livro que já está no meio, há umas duas semanas voltei a desenhar e ainda estou no Mestrado em Física. Três, dessas quatro atividades, me exigem um poder criativo acima da média, e eu percebo que esse poder criativo exige certos sacrifícios que, até um certo momento naquela praia, eu não tinha percebido.
Um vento cortante, céu nublado, e o som das ondas quebrando na minha mente, me fez olhar pra trás e perceber o que eu havia deixado passar durante todos esses anos: a minha produção depende essencialmente da minha necessidade. Eu tenho que precisar das coisas, não que tê-las, e isso me fez enxergar o que já vinham me dizendo desde que aquele ônibus partiu de Vice City, levando com ele a responsável pela minha transfiguração: se ela voltasse, eu nunca terminaria as coisas que eu comecei.
E, depois de um par de anos talvez, eu aceitei o fato de que ela não volta porque sempre soube disso, porque ela sempre entendeu o motor que me faz funcionar. Isso me lembra que talvez um dia eu não precise criar mais nada, e que aquela praia seja o lugar perfeito para certos encontros, mas que a alma que me fez nascer denovo, muito antes disso, será aquela que vai constituir família, e pelas minhas criações criarei seus filhos, sem nunca conhecê-los.
Uma tola mocinha sem nada na cabeça me ensinou a criar, um gênio me ensinou o que é preciso para terminar o que comecei.