quinta-feira, 30 de julho de 2009

Questão de Perspectiva

Pôres-de-sol. Definitivamente essa é a melhor coisa no inverno, além de fazer muito frio, é claro.
Levantar da cama ficou cada vez mais difícil, e muito embora eu não tenha visto o sol nascer ultimamente, as vezes largo um pouco as coisas de lado pra ver ele se por, por uma janela do departamento de física.
Depois de tanto tempo, acho que aprendi a gostar desse lugar. A falta das pessoas acaba me fazendo bem. Talvez o exílio não seja aqui, afinal, mas fora daqui.
E um dia eu ia olhando o sol se por, e nascer para alguém, em algum lugar do outro lado do mundo...
Que lugar fenomenal, onde não se encontra nada que não tenha valor para absolutamente ninguém. Até a folha seca no chão que eu vi hoje de manhã, vindo pro campus, deve significar alguma coisa pra alguém. Mas nos ultimos meses a saudade que eu tinha de algo importante foi desaparecendo, e sendo substituida pelas coisas que eu passei a ignorar. Tudo com o que eu tenho tentado me importar ultimamente, já é importante para outra pessoa, e dentre os meus defeitos está o fato de eu não gostar muito de compartilhar coisas que realmente importam pra mim.
Até o inverno passar, eu ia deixando o vento soprar e o sol continuar se pondo, enquanto a sensação de que sou parte de algo importante, para alguém que está longe, voltou por um momento. Naquela hora, naquele lugar, eu não devia ter feito a coisa certa.
Aquela sensação passou, e eu me vi voltando mais uma vez. Alguém tinha varrido a folha seca...

domingo, 5 de julho de 2009

A Estranha

Mais uma semana foi embora, e eu estou sozinho.
Essa é uma das vantagens de ser o único a ficar em Viçosa no início das férias, e tentar aproveitar o final, enquanto o resto da Universidade resolve aproveitar desde o início. De fato, talvez não todo o campus, mas o Departamento de Física é meu.
Nessa época eu passo semanas inteiras sem ver um rosto amigo, e o meu grave defeito de analisar as pessoas torna-se mais evidente. Foi nessa época, mais ou menos a uma semana, que eu tive contato com aquela mulher.
O DPF normalmente fica trancado aos sábados, e só quem tem a chave consegue entrar. Quando eu já ía pra casa, ela estava do lado de fora, tentando entrar. Estava procurando um professor. Como eu tinha a chave, decidi que iria acompanhá-la pelo prédio, depois ajudá-la a sair dele. O professor, ao que parece, não estava lá.
O caminho de volta, então, foi uma reta inteira dela falando e eu ouvindo, do jeito que costuma ser.
Ela me contou a história da filha dela, que é bolsista do CNPq (a mesma instituição que me financia) na oitava série, e que ela é muito inteligente, mas precisa, às vezes, ser cobrada. E enquanto a gente ia conversando unilateralmente, eu percebia o monstro que tinha me tornado, pois enquanto meus ouvidos ouviam o que ela dizia, meu cérebro tirava da mente dela a verdade. Eu sabia, todo o tempo, selecionar exatamente aquilo que era certo e o que era errado no que ela falava. E eu, ao mesmo tempo, lembrava da minha mãe. Lembrava o quanto a história daquela menina, e da sua mãe faladeira, havia sido aquilo da qual eu tinha me livrado.
Eu era um fenômeno, lia e escrevia desde muito cedo, aprendia qualquer coisa com uma facilidade incrível. Com certeza, eu poderia ser famoso hoje, poderia ter entrado pra universidade muito mais cedo, e talvez até já tivesse um doutorado. Não foi assim porque minha mãe não deixou.
E graças a ela, agora, eu conheço todas essas pessoas maravilhosas que conheço aqui, hoje. Não trocaria o que sou agora por mil diplomas. Graças a atitudes a tanto tempo esquecidas, que naquela conversa com uma estranha voltaram à minha mente, é que hoje eu posso dizer da liberdade que eu sinto pra fazer o que eu quizer, pra ser o que eu bem entender, e se eu entendo. Por causa da minha mãe eu não sou um animal de zoológico, e posso usar minha capacidade para as MINHAS grandes coisas.
Especial não tem nada a ver com ser melhor do que os outros, mas fazer suas ações se destacarem entre os estranhos.

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Diálogo

- Então é isso?
- É, tenho que ir pegar meu ônibus.
- Tá bem então, vou tentar me acostumar à vidinha denovo...
- Você vai se dar bem ainda. Eu te conheço.
- Você não me conhece...
- Conheço sim. Você gosta de analisar as pessoas.
- (Risos)
- Me analisa.
(Pausa)
- Você tem medo de que as pessoas te vejam como a sua imagem no espelho. Por isso fala sem parar o que pensa, sem na verdade pensar muito no que fala. Quer ter certeza de que as pessoas te ouvem ao invés de te ver. Acha que ninguém no mundo sabe a diferença entre o que você é aí dentro e o que é aqui fora.
- Pelo menos ninguém sabia (Pausa). Esse é o seu mundo, não o meu. Me desculpa por não poder ficar.
- Bom... você só está fazendo a coisa certa. Acho que nós dois aprendemos a lição.
- "Por que você quer tanto fazer a coisa certa?" Hehe... Vou sentir falta disso, cara...
- Como você sabe, eu não vou.
- É, eu sei... Foi bom te achar aqui. A gente se esbarra.
- A gente se esbarra.
(abraço, passos, porta)