sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

A Síndrome

O que eu não daria pra voltar atrás em algumas coisas, ou ter a oportunidade de fazê-las diferente. Ontem fiz uma oração pra mim mesmo. Pedi que fazer de tudo para que as coisas dêem certo, pedi pra largar de ser um covarde de merda e sair do casulo, e pedi pra criar a coragem de me desligar das coisas que me mantém seguro.
Tudo na vida tem um limite, uma fronteira. Eu sempre tive medo de chegar no precipício que há nessa fronteira, sem perceber que é lá que as coisas mais incríveis acontecem. Eu percebi que eu, na verdade, sempre estive no meio da planície, dentro de casa, dentro da minha mochila, chorando que nem uma menininha, vendo o precipício pela televisão.
Não mais, agora a coisa ficou séria.
Finalmente. Agora só preciso plantar uma árvore e ter um filho, quer dizer, três.
Filhos, não árvores.

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Nostradamus

Há alguns meses atrás eu estava assistindo, com a minha mãe, um documentário no History Channel sobre Nostradamus.
Pra quem não sabe, Nostradamus foi um cara que escreveu um livro há muito tempo atrás, que as pessoas acreditam que sejam previsões sobre o futuro. Eu tenho uma visão bem cética sobre aqueles que acreditam em destino, que tudo está traçado, que nós não temos o controle sobre aquilo que podemos ter, que podemos fazer acontecer. Com as previsões do Nostradamus, a coisa não é diferente.
Assim, depois daquele dia, sempre que eu vou embora de Belo Horizonte, de volta à minha Vice City, eu brinco com a minha mãe dizendo algo do tipo "vai chover às 3:17 da tarde.", e minha mãe fica toda cética. O número é quebrado, não é um horário bonito, e essa é a intenção.
Se eu digo que vai chover exatamente às três da tarde, e começa a chover três minutos depois, vão acreditar que eu forcei o resultado, e que na verdade eu queria dizer "mais ou menos" as três da tarde. Mas se eu digo um horário que, além de específico, é quebrado, ou eu estou certo ou não. "Se não chover às 3:17, você nem vai lembrar do que eu disse. Mas, se chover, vai ser legal não vai?"
É basicamente o que o Nostradamus fazia: as coisas que não aconteceram, ninguém lembra, mas as que acontecem impressionam todo mundo. Foi o que aconteceu dessa vez. Estavamos eu e minha mãe na estação do metrô, presos por causa da chuva, e eu, com a minha bobeira sem tamanho, falei com a minha mãe: "conta até 26 que vai parar de chover.". Dessa vez funcionou, e o resto do povo que ouviu o que eu tinha falado ficou impressionado, sem saber que eu faço isso o tempo todo, sem saber que eu apenas joguei um jogo onde basta tentar até conseguir.
E eu me lembrei, pensando nisso, nos motivos que me fazem ser cético quanto à importãncia do destino: eu já tentei prever meu futuro muitas vezes, já tive um objetivo em mente, um rumo traçado, mais os acidentes na estrada tiraram-no de mim. Eu perdi um sonho, que foi logo substituído por um melhor, depois, perdi esse também. Se tudo nessa vida segue mesmo um padrão, o que está guardado pra mim, dessa vez? Pelo que eu tenho que lutar?
Não sei se isso é destino... talvez seja só a minha alma de criança, querendo tentar até conseguir.

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

No Último Minuto (ou The Breakfast Club)

Há algumas semanas atrás estive em Belo Horizonte. Fui ver minha mãe denovo. Ultimamente, tenho feito isso uma vez por mês.
Dessa vez, não fui sozinho, fui com uma amigo meu. Era a primeira vez que ele ía à BH, e como  recepção calorosa esperamos quase trinta minutos, parados no trânsito, a duzentos metros da rodoviária. Nesse dia, chovia bastante. Ainda era mês de novembro, e como todo mês de novembro, eu tenho que tomar chuva pelo menos uma vez. Aquele era o dia.
Detalhes da viagem à parte, o mais interessante se sucedeu no caminho de volta. Eu viria para Vice City, meu exílio, e meu amigo seguiria para a minha cidade natal, Rio Pomba. No último minuto, porém, decidi ir com ele para Rio Pomba, jogar conversa fora com meu pai por alguns dias, jogar sinuca (agora nem videogame eu jogo), e só então seguir para Vice City. Essa decisão de mudar o destino da minha viagem me rendeu uma experiência, e uma das companhias de viagem mais interessantes que eu já tive.
Ela era farmacêutica, se sentou do meu lado, e falava pelos cotovelos. A outra, eu nem cheguei a saber o que fazia, mas era o tipo de pessoa que, apesar da "pouca" idade, sabia bastante do mundo, e se sentou ao lado do meu amigo. O senhor, sentado atrás de mim, tinha um humor negro do tipo que eu adoro, e também parecia saber das coisas lá de fora.
Mas eu jamais saberia desses detalhes, principalmente se, na altura de Carandaí, nossa viajem não tivesse sido interrompida, por quase três horas, devido a um acidente. Um caminhão de sucata tinha virado e derrubado algumas toneladas de ferro velho da pista, e nosso ônibus ficou parado por quase três horas.
Sem sinal de celular, sem sinal de que o problema seria resolvido, aquelas cinco pessoas começaram, então, a trocar experiências de vida. Falávamos das pessoas com quem havíamos convivido, das nossas façanhas do dia-a-dia, das habilidades que cada um havia desenvolvido, de maneira a viver a vida do jeito que nos aprouver. Durante três horas, aquela caixa de ferro e borracha era nossa barraca de acampamento, há quilômetros de qualquer região habitada.
O ônibus, então, finalmente andou. O alívio de estar a caminho de casa chegou ao "Clube dos Cinco", e tudo correria bem a partir dali.
E foi só no final da viajem que eu percebi que nenhum deles sabia meu nome. No último minuto, eu pensei que não valia a pena dizer. Desci do ônibus e fui pra casa.

P.S.: Assistam O Clube dos Cinco (The Breakfast Club).