segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Dos que Previam o Futuro

A melhor maneira de se prever o futuro é inventá-lo.
Isso é, de certa maneira, algo que pessoas que acreditam no destino jamais imaginam. A grande justificativa pra isso é: pessoas que acreditam no destino tendem a não precisar prever o futuro, pois tudo o que deve acontecer é o que vai acontecer, e elas simplesmente esperam que seus esforços sejam recompensados.
Mas existem aqueles que inventam, aqueles que demonstram a capacidade de tramar, de perseguir. Geralmente são pessoas acostumadas a subir montanhas e esfolar os joelhos. Conheci pessoas muito especiais na minha vida, algumas nem estão mais comigo, mas gosto de me lembrar delas. Se havia algo que todas tinham em comum, era a sua capacidade de prever o futuro. Embora com discursos bem diferentes, todos me diziam aquilo que ía acontecer, se eu fizesse isso ou aquilo.
Uma costumava ouvir os sonhos que eu tinha, quando dormia mais de dez horas, e dizia quase sempre que eram só bobagem, mas que eu deveria escrever uma história sobre isso. Sonhos, na maioria das vezes, são bobagens de onde a gente pode tirar algum proveito. Era interessante ver que ela não sabia tanto sobre o próprio futuro quanto sabia sobre o meu. Mesmo nas pessoas mais sábias existe o medo de falhar, e isso as torna, muitas vezes, mas suscetíveis ao erro quando resolvem tentar. Já tive uma versão piorada dessa doença, mas não mais.
O outro sabia tudo - do seu futuro mais do que qualquer pessoa, e do meu. Um navio não consegue levantar âncora sozinho, um capitão deve ordenar. O navio não sabe a hora de partir. Ele costumava dizer que a gente gosta de muita coisa, mas por isso escolher apenas uma, e deixar a outras pra trás, não é uma tarefa fácil. Ele era o meu "futuro alternativo" (Ver: Dois futuros), aquele que pelo menos me mostrava como eu seria se continuasse preso a certas idéias, se não tivesse buscado algo mais, e principalmente, se eu não tivesse buscado a purificação do exílio. Às vezes, havemos de concordar, uma imagem vale mais que mil palavras. Ele era a minha imagem.
Eles eram as minhas imagens, e eu ía até eles de vez em quando, me abrigar.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Sol Vermelho

Fazendo as minhas contas, percebi que já viajei de ônibus o suficiente para ir de Viçosa à Nova York, nesses últimos quatro anos.
E saber que viajei tanto assim me fez lembrar do tempo que eu passo nas rodoviárias. A minha ficha geralmente cai enquanto eu espero um ônibus chegar. Depois de tanto tempo, haverão de concordar, se pega a prática de se arrumar algo pra fazer, enquanto se espera. Depois de tanto tempo, isso passou a fazer parte de mim: encontrar inspiração pra viver, na expectativa que uma rodoviária proporciona. A certeza de que se está prestes a mudar de ares novamente.
Hoje em dia, o sol fica avermelhado no fim da tarde. Isso, além de meio anormal, nos dá a impressão de tempo seco e calor. Sob um sol avermelhado, se pondo no horizonte, fui comprar minha passagem de volta. De volta para algum lugar. E enquanto eu ía a caminho do guichê, me lembrava de Nova York, e me lembrava que, embora fossem ídas e voltas, cada passagem me levava pra longe de um lugar comum. Embora durante cada uma dessas ídas e voltas que me fizeram um homem da estrada, eu nunca tivesse saído de uma pequena região de Minas, a cada giro da roda que me leva eu vou me afastando; vou me afastando de uma idéia. Agora eu estou tão longe dela quanto Nova York está de Viçosa. E eu lhe mando um beijo, que deve chegar amanhã. Ele vem do outro lado do mundo.
Essa distância tem ganhado, com o tempo, uma grande importância pra mim, e por mais que uma simples idéia não possa causar nenhum mal, sempre tive medo de agir. Se houvesse algo de humano em mim, quando ía para o guichê e via o ônibus certo saíndo da rodoviária, para onde eu deveria ir, só que sem mim, eu deveria ter corrido, tê-lo pego, e adicionado mais alguns quilômetros pra longe de Viçosa, só que pra mais perto daquela velha idéia. Sorte minha não ser tão humano, e não ser essa a minha maneira de lidar com essas questões.
Eu passei a entender que cada um tem seus próprios problemas, e sua maneira de lidar com eles. Eu talvez seja a pessoa mais estragada que eu conheço, mas também sou a que mais viajou.