sexta-feira, 29 de junho de 2012

A Arte de Lidar com a Partida

Há pouco tempo a avó de minhas primas se foi. Fiquei sabendo, na verdade, alguns dias depois.
Eu aposto que todo mundo conhece a sensação de impotência de ter que consolar alguém, quando não há maneira de se resolver o problema que se começou tudo. Sempre que eu sentia essa sensação, há tempos, eu me lembrava do Weaver - aquele moleque de quinze anos que me fez pensar em coisas que nunca tinha pensado antes. E ele, como não podia deixar de ser, me fez pensar na morte, afinal, ele mesmo sabia o que estava por vir.
O que ele me disse foi o seguinte: "Você ficaria triste por alguém que se aposentou e foi morar no Havaí?". Tudo o que você perde quando alguém se vai é a presença. Se você pensa por alguns instantes e põe tudo na balança, o importante fica aqui com você: as lembranças, as lições ensinadas pela vida vivida juntos.
Enfim, alguma coisa me disse, às sete da manhã, que eu tinha que telefonar pra elas. Mas daí eu pensei: o que eu posso dizer? Diria que sentia muito? Não seria verdade, não quando você é do tipo de pessoa que não acredita em luto, e que prefere acreditar que quem se foi, é porque está melhor assim. Diria que estarei disponível para o que elas precisarem? Também seria mentira. Eu não estava lá dessa vez, e não estarei em muitas outras no futuro. De fato, cada vez mais. Diria que podem contar com a ajuda que eu puder dar? Elas já sabem disso.
Eu preferi o silêncio. Deixar as coisas passarem e a tristeza do luto recente se tranformar na alegria da verdade: ninguém morre enquanto você se lembra.
Minhas primas um dia vão se lembrar disso. Foi Weaver quem me ensinou, do jeito difícil. Do único jeito que se pode aprender.

terça-feira, 19 de junho de 2012

A Ordem das Coisas

Estive conversando com uma prima minha, há alguns dias, sobre o quanto ir esquecendo determinadas pessoas torna-se um processo inteiramente natural. Não é por crueldade. Essas coisas acontecem quando, à medida que o tempo passa, o destino nos leva a seguir caminhos diferentes, seja pela distância geográfica ou mesmo pelo distanciamento de interesses que, em um tempo que já se vai, eram os mesmos.
Soube que quatro pessoas iriam se casar, mas não conheço um dos maridos. Fingi surpresa para duas delas, e as outras duas realmente me surpreenderam. A segunda noiva vivia me dizendo que um dia nós íamos decidir quem iria ter filhos e quem ia criar o mundo onde eles cresceriam. Ao que parece, para mim, coube a segunda tarefa.
E assim minha vida segue, algumas responsabilidades maiores, as responsabilidades menores de sempre, e o meio de ano me vem com uma nova esperança, uma nova conquista a celebrar: finalmente sou dono de "A Síndrome do Gênio". Meu livro será publicado logo, e corrigindo uma coisinha aqui e ali, vou dando às palavras mal escritas o toque da obra final.
Tê-lo escrito, mais do que qualquer coisa, foi fazer as pazes com alguns aspectos do meu passado, e me fez reviver momentos de que já nem me lembrava. Estou finalmente em paz com algumas decisões que tomei, e acho que isso seja a melhor coisa que já fiz por mim mesmo.
Meu caminho agora se distancia do que era, eu eu vou, aos poucos, esquecendo a pessoa que começou a escrever nesse blog. É um processo inteiramente natural.