segunda-feira, 25 de novembro de 2013

A Fé Cega

Se eu fumasse, aquele seria o momento de acender um cigarro. Do lado de fora da porta, olhando de longe o Estádio Independência, nenhuma nuvem no céu.
Nos últimos meses tenho feito coisas que ninguém esperava. Praticamente "larguei" meu mestrado na UFV (ainda terminando), saí de Viçosa, não vou à minha cidade natal há alguns meses, tenho vivido na mais absoluta "procrastinação". Como Físico, eu sei que na natureza, quando um fenômeno acontece, ele continua acontecendo a menos que aquilo que o originou deixe de existir. Naquele momento, do lado de fora da minha nova casa, a origem do meu fenômeno voltou a mim: você não pode ser aquilo que quer sendo igual a todo mundo. A minha escolha foi, na verdade, muito simples. A cada palestra que eu ia, a cada pesquisa que eu fazia, eu sabia que 1% da população humana saberia do que eu estava falando. Na Física, assim como na vida, quanto mais você sabe, mais sozinho você é.
Eu não nasci pra ser assim. Eu não quero usar minha inteligência pra ajudar 1%. Isso é besteira. Ao invés disso, resolvi trilhar um novo caminho, pra tentar ser alguém realmente importante: um caminho diferente.
Ainda não sei como a história vai terminar, ou se eu vou conseguir ser alguém, a partir das escolhas que fiz, ou dos riscos que assumi, mas eu já deixei de me preocupar com isso há muito tempo. A nova guerra e a nova paz estão apenas começando.

sexta-feira, 1 de novembro de 2013

O Inverno

Fez frio quase todo dia.
Durante seis meses, as blusas saíram do armário. Durante seis meses, o Sol insistia em não aparecer. Nesse inverno eu perdi a noção dos dias. Não sabia se era segunda feira, se já era o fim do mês, se já eram três da tarde... Meu relógio biológico funcionava em um ciclo de trinta horas: vinte acordado, dez dormindo. Isso significava que, em algumas ocasiões, eu ia dormir às quatro da tarde, e acordava às seis da manhã.
Num desses dias eu acordei às seis, fiz café, e ninguém na minha casa tinha acordado. Ninguém existia na minha casa. Eu abri a porta da frente, sentei no banco da varanda, e entre as árvores do outro lado da rua, vi o Sol nascendo, devagar, como há muito tempo não fazia. E uma música começou a tocar na minha cabeça, uma que dizia "o exílio tomou conta da sua cabeça, novamente.". Com a caneca de café na mão, sentado num banco, no mês de agosto.
Eu sabia, naquele dia, que algo precisava mudar. Estar sozinho parou de me fazer bem, e começou a me fazer mal. A sorte dos tolos que me enviou para o exílio tinha acabado. Com um telefonema, com uma passagem de ônibus, com uma mochila nas costas, o exílio acabou. Só voltei lá pra buscar o resto das coisas.
A caneca suja de café ficou na pia.