Se eu fumasse, aquele seria o momento de acender um cigarro. Do lado de fora da porta, olhando de longe o Estádio Independência, nenhuma nuvem no céu.
Nos últimos meses tenho feito coisas que ninguém esperava. Praticamente "larguei" meu mestrado na UFV (ainda terminando), saí de Viçosa, não vou à minha cidade natal há alguns meses, tenho vivido na mais absoluta "procrastinação". Como Físico, eu sei que na natureza, quando um fenômeno acontece, ele continua acontecendo a menos que aquilo que o originou deixe de existir. Naquele momento, do lado de fora da minha nova casa, a origem do meu fenômeno voltou a mim: você não pode ser aquilo que quer sendo igual a todo mundo. A minha escolha foi, na verdade, muito simples. A cada palestra que eu ia, a cada pesquisa que eu fazia, eu sabia que 1% da população humana saberia do que eu estava falando. Na Física, assim como na vida, quanto mais você sabe, mais sozinho você é.
Eu não nasci pra ser assim. Eu não quero usar minha inteligência pra ajudar 1%. Isso é besteira. Ao invés disso, resolvi trilhar um novo caminho, pra tentar ser alguém realmente importante: um caminho diferente.
Ainda não sei como a história vai terminar, ou se eu vou conseguir ser alguém, a partir das escolhas que fiz, ou dos riscos que assumi, mas eu já deixei de me preocupar com isso há muito tempo. A nova guerra e a nova paz estão apenas começando.
Há coisas que eu penso. Há coisas que me dizem, e há coisas que eu vejo. Tudo isso não é nada além das variáveis da equação que me define como ser humano. Que tenta me explicar como alguém, como se isso fosse possível.
segunda-feira, 25 de novembro de 2013
sexta-feira, 1 de novembro de 2013
O Inverno
Fez frio quase todo dia.
Durante seis meses, as blusas saíram do armário. Durante seis meses, o Sol insistia em não aparecer. Nesse inverno eu perdi a noção dos dias. Não sabia se era segunda feira, se já era o fim do mês, se já eram três da tarde... Meu relógio biológico funcionava em um ciclo de trinta horas: vinte acordado, dez dormindo. Isso significava que, em algumas ocasiões, eu ia dormir às quatro da tarde, e acordava às seis da manhã.
Num desses dias eu acordei às seis, fiz café, e ninguém na minha casa tinha acordado. Ninguém existia na minha casa. Eu abri a porta da frente, sentei no banco da varanda, e entre as árvores do outro lado da rua, vi o Sol nascendo, devagar, como há muito tempo não fazia. E uma música começou a tocar na minha cabeça, uma que dizia "o exílio tomou conta da sua cabeça, novamente.". Com a caneca de café na mão, sentado num banco, no mês de agosto.
Eu sabia, naquele dia, que algo precisava mudar. Estar sozinho parou de me fazer bem, e começou a me fazer mal. A sorte dos tolos que me enviou para o exílio tinha acabado. Com um telefonema, com uma passagem de ônibus, com uma mochila nas costas, o exílio acabou. Só voltei lá pra buscar o resto das coisas.
A caneca suja de café ficou na pia.
Durante seis meses, as blusas saíram do armário. Durante seis meses, o Sol insistia em não aparecer. Nesse inverno eu perdi a noção dos dias. Não sabia se era segunda feira, se já era o fim do mês, se já eram três da tarde... Meu relógio biológico funcionava em um ciclo de trinta horas: vinte acordado, dez dormindo. Isso significava que, em algumas ocasiões, eu ia dormir às quatro da tarde, e acordava às seis da manhã.
Num desses dias eu acordei às seis, fiz café, e ninguém na minha casa tinha acordado. Ninguém existia na minha casa. Eu abri a porta da frente, sentei no banco da varanda, e entre as árvores do outro lado da rua, vi o Sol nascendo, devagar, como há muito tempo não fazia. E uma música começou a tocar na minha cabeça, uma que dizia "o exílio tomou conta da sua cabeça, novamente.". Com a caneca de café na mão, sentado num banco, no mês de agosto.
Eu sabia, naquele dia, que algo precisava mudar. Estar sozinho parou de me fazer bem, e começou a me fazer mal. A sorte dos tolos que me enviou para o exílio tinha acabado. Com um telefonema, com uma passagem de ônibus, com uma mochila nas costas, o exílio acabou. Só voltei lá pra buscar o resto das coisas.
A caneca suja de café ficou na pia.
quarta-feira, 9 de outubro de 2013
Minhas 127 Horas (Parte Final)
Medo. Eu recebi a última lição sobre medo naquela tarde. 126 horas de rosto inchado, preso em isolamento do mundo. A vizinha tinha sofrido um derrame cerebral, e nós dois estavamos naquele quarto por motivos diferentes, mas não totalmente diferentes. Ela não podia sair de qualquer jeito, e eu não tinha que trabalhar por causa do inchaço. Não havia nada que eu precisasse fazer em casa, então decidi ficar ali, ao lado daquela cama, por mais um tempo.
"Ela leu seu blog, sabia?", a filha me disse. Não vou entrar em detalhes de como ela achou esse espaço, só digo que tem algo a ver com A Síndrome do Gênio. O mais interessante foi saber que ela era uma psicóloga. Alguém que consertou a mente de tanta gente, agora foi traída pela sua própria.
A próxima hora de lucidez começou com ela me dizendo que eu tenho tanto medo. Eu não sei, mas talvez ela tenha razão. Eu já perdi tanta coisa que agora eu tenho medo, e até aquele momento, eu não tinha certeza de que. Acho que no fim da vida a gente vê tudo mais claro, mesmo quando não se sabe de tudo, mesmo quando se tem Alzheimer.
Depois que a mulher da minha vida se casou com outro cara, eu vivia com medo de nunca mais encontrar alguém como ela. Naquela tarde, eu descobri que não era esse o meu verdadeiro medo. O meu medo era de encontrar, e não estar pronto. Mas, 127 horas depois do meu vigésimo sexto aniversário, eu aprendi o que era necessário pra estar pronto, pra tentar esquecer o medo. 127 horas depois, passei a mão pelo meu rosto e percebi que o inchaço tinha finalmente desaparecido.
Ali, enquanto os enfermeiros a preparavam para a volta ao hospital, e visto que nenhum deles me perguntou sobre o meu rosto, o quasimodo recebeu uma redenção final.
"O mundo te criou pra ser assim, distante, então não tenha medo."
Aquelas foram as últimas palavras, as que ficaram. Aquela voz se calou pra sempre, três horas depois. Mais uma alma se juntava ao meu bom amigo Weaver, e me obrigava a viver por ela. Já aprendi a me despedir das pessoas.
E acho que não tenho mais medo.
"Ela leu seu blog, sabia?", a filha me disse. Não vou entrar em detalhes de como ela achou esse espaço, só digo que tem algo a ver com A Síndrome do Gênio. O mais interessante foi saber que ela era uma psicóloga. Alguém que consertou a mente de tanta gente, agora foi traída pela sua própria.
A próxima hora de lucidez começou com ela me dizendo que eu tenho tanto medo. Eu não sei, mas talvez ela tenha razão. Eu já perdi tanta coisa que agora eu tenho medo, e até aquele momento, eu não tinha certeza de que. Acho que no fim da vida a gente vê tudo mais claro, mesmo quando não se sabe de tudo, mesmo quando se tem Alzheimer.
Depois que a mulher da minha vida se casou com outro cara, eu vivia com medo de nunca mais encontrar alguém como ela. Naquela tarde, eu descobri que não era esse o meu verdadeiro medo. O meu medo era de encontrar, e não estar pronto. Mas, 127 horas depois do meu vigésimo sexto aniversário, eu aprendi o que era necessário pra estar pronto, pra tentar esquecer o medo. 127 horas depois, passei a mão pelo meu rosto e percebi que o inchaço tinha finalmente desaparecido.
Ali, enquanto os enfermeiros a preparavam para a volta ao hospital, e visto que nenhum deles me perguntou sobre o meu rosto, o quasimodo recebeu uma redenção final.
"O mundo te criou pra ser assim, distante, então não tenha medo."
Aquelas foram as últimas palavras, as que ficaram. Aquela voz se calou pra sempre, três horas depois. Mais uma alma se juntava ao meu bom amigo Weaver, e me obrigava a viver por ela. Já aprendi a me despedir das pessoas.
E acho que não tenho mais medo.
terça-feira, 24 de setembro de 2013
Minhas 127 Horas (Parte 2)
Parte 1 aqui.
Lá estava eu. Preso em casa, com o rosto inchado. Recomendações do dentista.
Quando se está enclausurado em algum lugar, muitas vezes é a nossa chance de conhecê-lo melhor. Já me ensinaram uma vez que você nunca conhece um lugar totalmente. Sempre há uma mancha no chão, um arranhão na geladeira, alguma coisa que você não sabe de onde veio. E assim eu perambulei pela casa onde morava há seis anos, perdido.
Era fim de tarde, na quarta-feira, a primeira vez que saí na varanda, com o rosto ainda inchado. Um pouco abaixo na rua, a filha da minha vizinha varria a calçada. A mulher de uns trinta e poucos me olhou por uns segundos, acenou, e eu evitei virar o rosto pra não assustá-la. Ela provavelmente ficaria preocupada, me perguntaria o que tinha acontecido, e eu teria que explicar pra ela o que já tinha explicado para o dentista. Eu achava melhor que fosse assim. As coisas que eu digo e que eu faço devem sempre devem ter mais importância do que aquilo com que eu me pareço.
O rapaz, que havia feito seus vinte e seis anos há apenas alguns dias, queria voltar ao mundo, queria experimentar a vida. O quasimodo, sentado na varanda, queria viajar pelas praças de Paris.
Nesse momento uma vassoura vai ao chão, e a moça que antes varria a rua entra correndo na casa.
Nesse momento o quasimodo esqueceu de seu pequeno defeito, e como nunca tinha acontecido antes, se preocupava com o que tinha acontecido.
Ele deixa o conforto de sua varanda e entra na casa ao lado pela primeira vez.
Lá estava eu. Preso em casa, com o rosto inchado. Recomendações do dentista.
Quando se está enclausurado em algum lugar, muitas vezes é a nossa chance de conhecê-lo melhor. Já me ensinaram uma vez que você nunca conhece um lugar totalmente. Sempre há uma mancha no chão, um arranhão na geladeira, alguma coisa que você não sabe de onde veio. E assim eu perambulei pela casa onde morava há seis anos, perdido.
Era fim de tarde, na quarta-feira, a primeira vez que saí na varanda, com o rosto ainda inchado. Um pouco abaixo na rua, a filha da minha vizinha varria a calçada. A mulher de uns trinta e poucos me olhou por uns segundos, acenou, e eu evitei virar o rosto pra não assustá-la. Ela provavelmente ficaria preocupada, me perguntaria o que tinha acontecido, e eu teria que explicar pra ela o que já tinha explicado para o dentista. Eu achava melhor que fosse assim. As coisas que eu digo e que eu faço devem sempre devem ter mais importância do que aquilo com que eu me pareço.
O rapaz, que havia feito seus vinte e seis anos há apenas alguns dias, queria voltar ao mundo, queria experimentar a vida. O quasimodo, sentado na varanda, queria viajar pelas praças de Paris.
Nesse momento uma vassoura vai ao chão, e a moça que antes varria a rua entra correndo na casa.
Nesse momento o quasimodo esqueceu de seu pequeno defeito, e como nunca tinha acontecido antes, se preocupava com o que tinha acontecido.
Ele deixa o conforto de sua varanda e entra na casa ao lado pela primeira vez.
segunda-feira, 2 de setembro de 2013
A Barca
Estou sumido, eu sei. Trataremos disso depois. Enquanto isso, segue um trechinho de "A Barca", meu não-tão-novo projeto. Aproveitem:
"De volta ao seu apartamento, Layla começa a fazer as malas.
Hora de deixar o vestido azul de lado e usar algo que realmente achava
confortável: camisa de malha, um casaco leve, calças jeans e tênis. Enquanto o
elevador cobre os cinco andares, de volta ao térreo, Layla tentava novamente se
localizar: estava viajando para São Paulo, para uma base da FAB, porque um
rapaz que não via há muito tempo precisava da sua ajuda.
Ela olha de relance o chuveiro, talvez tomasse um banho
quando chegasse lá. Agora não havia tempo. Mochila nos ombros, porta afora, e
de volta aos homens que a esperavam na calçada, do lado de fora.
William abre a porta do carro para Layla, que encontra seu
conforto no banco de trás, e ele se senta ao lado dela. O motorista, militar,
segue a caminho do aeroporto de Confins.
– Enquanto a gente te esperava, um amigo seu passou em
frente ao seu apartamento e reconheceu a gente, da festa de ontem. Um tal de
Henrique. Perguntou por você.
– E o que você disse?
– Que você ia viajar por uns dias. Legal você ter um amigo
gay.
– Ele não é gay.
– Ah, fala sério.
– É sério, a gente conversou na festa ontem...
– Quem apresentou vocês?
– O tio dele. – e depois de pensar um pouco, – Ah,
entendi...
– Não se preocupe, eu só deduzi por causa do puddle com o
qual ele estava passeando. Ele sabia o nome do cachorro.
O oficial havia percebido, àquela altura, que William
Lourenço não era uma pessoa normal. Diante da liberdade que o rapaz
apresentava, resolve afrouxar um pouco a sua farda e ter uma conversa menos
formal com seus passageiros:
– Já reparou que quase toda mulher tem um amigo homossexual?
– Claro. É o melhor tipo de amigo pra uma mulher. Quer
dizer, considere as outras opções: com um amigo hetero, ela nunca sabe quando
ele vai estragar tudo dizendo que a ama, ou a namorada histérica dele vai
começar a relacionar o tempo que eles passam juntos com o fato dela ser um
animal de fazenda. Com amiga mulher, ou a amiga é mais bonita, onde o problema
é óbvio, ou é mais feia, onde o risco de vê-la reclamar da vida e fazer
beicinho é grande, sem contar o fato de que a amizade feminina é competitiva
por natureza. Gays não têm esse problema, eles pensam como uma mulher, eles entendem
de moda, e na balada eles podem até querer o mesmo que a menina, mas não há a
competição direta. Ela quer heteros, ele, gays. O mundo deles é mais simples
que o nosso.
Layla apenas sorri, desviando o olhar para o mundo lá fora,
e se lembrando de que essa era a magia de William Lourenço, o rapaz capaz de
analisar o mundo ao seu redor.
quinta-feira, 28 de março de 2013
Minhas 127 Horas (Parte 1)
Passado dia 17 fiz 26 anos. Ao contrário da maioria das pessoas, eu não me importo com isso.
Mas os dias que se sucederam foram realmente únicos. Meia dúzia de acontecimentos, todos dedicados a um mesmo objetivo: meu presente a mim mesmo.
Vou começar do começo.
Desde meus vinte anos que eu fico incomunicável no meu aniversário. Minha irmã já sabe que, se quizer me ligar, ou se consegue um dia antes ou um dia depois. Dessa vez não foi diferente: tirei o dia pra mim, não fiz quase nada o dia inteiro, mas me dei meu presente. Fiz algo que nunca tinha feito antes.
O que foi dessa vez? Sobrevoar a minha UFV num bimotor. Todo domingo esse "serviço" é oferecido, e eu queria experimentar. Já que esse ano meu aniversário deu no domingo, eu pensei "por que não?". E lá fui eu, ganhar meus trinta minutos de soberania. No caminho de volta, olhando pela janela do ônibus, uma chuvinha fina batia na janela, e me lembrava de erros cometidos há muito tempo, há tanto tempo que eles já nem importavam mais. A chuva me lembrava que eu tinha aprendido com meus erros, e que eles não voltariam a se repetir. E isso me fez uma pessoa um pouco menos errada, um pouco mais certa.
Quando finalmente cheguei em casa, às três da tarde, ainda fui à UFV, dessa vez preso ao chão, e terminei meu dia às onze e meia, conversando ao telefone com minha irmã, na recaída de ligar o celular, sobre responsabilidade. Meu assunto favorito nos últimos meses.
Meu dia estava completo, até eu chegar em casa e perceber que metade da minha prótese dentária, do meu molar inferior esquerdo, estava faltando.
Começava a semana mais importante da minha vida.
Mas os dias que se sucederam foram realmente únicos. Meia dúzia de acontecimentos, todos dedicados a um mesmo objetivo: meu presente a mim mesmo.
Vou começar do começo.
Desde meus vinte anos que eu fico incomunicável no meu aniversário. Minha irmã já sabe que, se quizer me ligar, ou se consegue um dia antes ou um dia depois. Dessa vez não foi diferente: tirei o dia pra mim, não fiz quase nada o dia inteiro, mas me dei meu presente. Fiz algo que nunca tinha feito antes.
O que foi dessa vez? Sobrevoar a minha UFV num bimotor. Todo domingo esse "serviço" é oferecido, e eu queria experimentar. Já que esse ano meu aniversário deu no domingo, eu pensei "por que não?". E lá fui eu, ganhar meus trinta minutos de soberania. No caminho de volta, olhando pela janela do ônibus, uma chuvinha fina batia na janela, e me lembrava de erros cometidos há muito tempo, há tanto tempo que eles já nem importavam mais. A chuva me lembrava que eu tinha aprendido com meus erros, e que eles não voltariam a se repetir. E isso me fez uma pessoa um pouco menos errada, um pouco mais certa.
Quando finalmente cheguei em casa, às três da tarde, ainda fui à UFV, dessa vez preso ao chão, e terminei meu dia às onze e meia, conversando ao telefone com minha irmã, na recaída de ligar o celular, sobre responsabilidade. Meu assunto favorito nos últimos meses.
Meu dia estava completo, até eu chegar em casa e perceber que metade da minha prótese dentária, do meu molar inferior esquerdo, estava faltando.
Começava a semana mais importante da minha vida.
segunda-feira, 4 de março de 2013
Minhas Introspecções
Descobri essa semana que o fato de eu ser uma pessoa que prefere não demostrar sentimentos "abertamente" não faz de mim um introvertido. Afinal, eu posso falar sobre qualquer assunto, posso demonstrar qualquer reação, exceto as emocionais.
Mas o mais interessante é que eu descobri que algumas pessoas realmente me invejam nesse ponto.
Frieza, muitas vezes, é algo extemamente necessário pra te deixar a par das situações, pra lhe posicionar diante de uma realidade e principalmente pra tomar decisões importantes. Mas, é como diria o Exupéry: "Uma vez no centro do perigo os homens não se horrorizam mais". Foi preciso, pra mim, estar no centro do perigo primeiro, foi preciso tomar algumas decisões erradas, baseadas em sentimentos terríveis, e pagar o preço por elas. O espírito de ninguém nasce assim, nós somos impulsivos por natureza. A diferença são os acontecimentos que nos moldam, e que vão, há medida em que a gente cresce, nos horrorizando cada vez menos. Eu já não tenho medo de tomar decisão alguma me baseando no que sei; já tomei muitas decisões me baseando no que temo.
Isso traz tantas soluções quanto problemas.
Mas sabe de uma coisa, estar em controle de sentimentos fortes e ser capaz de dar um passo atrás, e estar certo de que suas ações e atitudes perante as pessoas não são controladas ou limitadas pelo que se sente - isso é de se orgulhar. Eu sei que isso não é pra todo mundo.
Mas o mais interessante é que eu descobri que algumas pessoas realmente me invejam nesse ponto.
Frieza, muitas vezes, é algo extemamente necessário pra te deixar a par das situações, pra lhe posicionar diante de uma realidade e principalmente pra tomar decisões importantes. Mas, é como diria o Exupéry: "Uma vez no centro do perigo os homens não se horrorizam mais". Foi preciso, pra mim, estar no centro do perigo primeiro, foi preciso tomar algumas decisões erradas, baseadas em sentimentos terríveis, e pagar o preço por elas. O espírito de ninguém nasce assim, nós somos impulsivos por natureza. A diferença são os acontecimentos que nos moldam, e que vão, há medida em que a gente cresce, nos horrorizando cada vez menos. Eu já não tenho medo de tomar decisão alguma me baseando no que sei; já tomei muitas decisões me baseando no que temo.
Isso traz tantas soluções quanto problemas.
Mas sabe de uma coisa, estar em controle de sentimentos fortes e ser capaz de dar um passo atrás, e estar certo de que suas ações e atitudes perante as pessoas não são controladas ou limitadas pelo que se sente - isso é de se orgulhar. Eu sei que isso não é pra todo mundo.
segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013
"...pra se tornar quem é."
Carnaval é uma época esquisita. É você ver todo mundo que se f$@#$ode o ano inteiro dançando feliz da vida.
Esses dias eu voltei pra casa às quatro da manhã, como sempre fazia. De vez em quando alguém vinha e me perguntava "Você não fica envergonhado das pessoas te verem voltando pra casa às quatro da manhã?". Eu não ficava, porque se alguém me vê acordado às quatro da manhã, é porque também está acordado, e normalmente por motivos bem piores que os meus. Eu, todos esses anos, estava são.
Mas ontem eu fui longe demais, fiquei acordado até as sete da manhã, e antes de dormir fui comprar pão.
No caminho de volta, enquanto o sol nascia nas minhas costas, a minha vizinha com Alzheimer me perguntou "Por que você tá acordando cedo no Carnaval?", e enquanto a filha dela saía de casa, rindo da pergunta que sua mãe tinha feito e se desculpando comigo (sabe-se lá porquê), eu só pude olhar pra janela e dizer "Porque é assim que eu sou." Dentro de mim, a frase continuava como se outra pessoa falasse comigo.
Porque é assim que eu sou. Sou o resultado de alguém que teve que matar aquilo que mais amava pra torná-la livre. Algúem que abdicou daquilo que mais queria em prol daquilo que precisava, e viu essa coisa se desmanchar no ar, ao ponto da não existência. Sou alguém que se redimiu, anos mais tarde, consigo mesmo.
Cicatrizes não existem pra nos fazer sentir dor, mas pra nos lembrar de não cometer os mesmos erros;
aqueles que me tornaram quem eu sou.
Esses dias eu voltei pra casa às quatro da manhã, como sempre fazia. De vez em quando alguém vinha e me perguntava "Você não fica envergonhado das pessoas te verem voltando pra casa às quatro da manhã?". Eu não ficava, porque se alguém me vê acordado às quatro da manhã, é porque também está acordado, e normalmente por motivos bem piores que os meus. Eu, todos esses anos, estava são.
Mas ontem eu fui longe demais, fiquei acordado até as sete da manhã, e antes de dormir fui comprar pão.
No caminho de volta, enquanto o sol nascia nas minhas costas, a minha vizinha com Alzheimer me perguntou "Por que você tá acordando cedo no Carnaval?", e enquanto a filha dela saía de casa, rindo da pergunta que sua mãe tinha feito e se desculpando comigo (sabe-se lá porquê), eu só pude olhar pra janela e dizer "Porque é assim que eu sou." Dentro de mim, a frase continuava como se outra pessoa falasse comigo.
Porque é assim que eu sou. Sou o resultado de alguém que teve que matar aquilo que mais amava pra torná-la livre. Algúem que abdicou daquilo que mais queria em prol daquilo que precisava, e viu essa coisa se desmanchar no ar, ao ponto da não existência. Sou alguém que se redimiu, anos mais tarde, consigo mesmo.
Cicatrizes não existem pra nos fazer sentir dor, mas pra nos lembrar de não cometer os mesmos erros;
aqueles que me tornaram quem eu sou.
sábado, 2 de fevereiro de 2013
Ausência II
Tem chovido, e chovido muito.
Fiquei em Belo Horizonte quase uma semana, depois fui até Rio Pomba ver meu pai. Menos de vinte quatro horas depois, cá estava eu de volta à Vice City, de volta ao meu exílio. No meu retorno, acabei descobrindo que a mãe da minha vizinha tem Alzheimer, e agora ela está morando na casa ao lado. A velhinha fica horas sentada na varanda, e possui a inocente combinação entre uma doença que lhe tira a memória e a curiosidade. Já troquei uma ou duas palavras com ela, e já falei meu nome umas cinco vezes.
Mas a conversa interessante mesmo foi com a minha vizinha. Ela insistia em me dizer que a vida que a mãe dela tinha, quando as duas se conheciam, não existe mais. O que aquela doença a havia ensinado era que viver o presente é tudo o que mãe e filha tinham, naquele momento. Ela não poderia jamais permitir que a doença afetasse as duas, e ela jamais poderia agir como se as lembranças que faziam parte dela também fizessem parte de sua mãe.
E, como tudo, eu tracei um longo paralelo comigo mesmo. Eu não vou estar no pensamento das pessoas o tempo todo, e jamais devo agir como se estivesse. E ninguém vai se lembrar que você existe até que você, de fato, exista. A memória das pessoas, com Alzheimer ou não, é muito curta, e as presenças são infinitamente mais sentidas do que as ausências. Eu parei de cobrar, de repente, que as pessoas se lembrassem do que tivemos no passado. Meu presente é um lugar melhor.
Da última vez, saindo de casa, eu ouvi da varanda ao lado: "Oi, menino. Você esqueceu o guarda-chuva."
Eu fui buscar o guarda-chuva.
Fiquei em Belo Horizonte quase uma semana, depois fui até Rio Pomba ver meu pai. Menos de vinte quatro horas depois, cá estava eu de volta à Vice City, de volta ao meu exílio. No meu retorno, acabei descobrindo que a mãe da minha vizinha tem Alzheimer, e agora ela está morando na casa ao lado. A velhinha fica horas sentada na varanda, e possui a inocente combinação entre uma doença que lhe tira a memória e a curiosidade. Já troquei uma ou duas palavras com ela, e já falei meu nome umas cinco vezes.
Mas a conversa interessante mesmo foi com a minha vizinha. Ela insistia em me dizer que a vida que a mãe dela tinha, quando as duas se conheciam, não existe mais. O que aquela doença a havia ensinado era que viver o presente é tudo o que mãe e filha tinham, naquele momento. Ela não poderia jamais permitir que a doença afetasse as duas, e ela jamais poderia agir como se as lembranças que faziam parte dela também fizessem parte de sua mãe.
E, como tudo, eu tracei um longo paralelo comigo mesmo. Eu não vou estar no pensamento das pessoas o tempo todo, e jamais devo agir como se estivesse. E ninguém vai se lembrar que você existe até que você, de fato, exista. A memória das pessoas, com Alzheimer ou não, é muito curta, e as presenças são infinitamente mais sentidas do que as ausências. Eu parei de cobrar, de repente, que as pessoas se lembrassem do que tivemos no passado. Meu presente é um lugar melhor.
Da última vez, saindo de casa, eu ouvi da varanda ao lado: "Oi, menino. Você esqueceu o guarda-chuva."
Eu fui buscar o guarda-chuva.
terça-feira, 29 de janeiro de 2013
Jekyll & Hyde
Vocês já ouviram falar da história de "O
Médico e o Monstro"? Dr. Jekyll, um bom e velho camarada, após tomar um
soro, consegue isolar sua segunda personalidade, Hyde, cruel em sua natureza.
Recentemente minha mania de falar sozinho tem
piorado, e isso já não costumava ser bom sinal. Mas agora eu não falo
literalmente sozinho, eu falo comigo mesmo no espelho: é bom pra liberar certas
coisas, e tentar seguir meus próprios conselhos. Foi falando comigo mesmo, no
espelho, que eu me lembrei de uma cena da peça "Jekyll and Hyde"
onde o médico e o monstro conversam entre si, através do espelho. Não era uma
conversa particularmente amigável: Jekyll insiste em tentar encontrar a cura
para sua condição, e Hyde diz que os dois são inseparáveis, e que mesmo que
Jekyll morra, o monstro viverá para sempre.
Eu descobri, conversando com o espelho, que eu
tenho meu próprio Hyde, esperando pra acontecer. Se eu não ouvia meus próprios
conselhos, talvez ouvisse minhas próprias ameaças. É um cara aterrorizante que
botou o dedo no meu nariz e me disse que tudo aquilo que eu já consegui tudo o
que precisava, mas não estou nem perto daquilo que eu quero, e que se Jekyll
não consegue consertar minha vida, talvez Hyde consiga. E ele me pedia, do
outro lado do espelho, pra sair. Pra sair e resolver tudo.
Mas Hyde é tão diferente de Jekyll. Ele não
lutou por aquilo que as pessoas queriam, ele não melhorou a vida delas, e ele
provavelmente deixaria a maioria delas na mão. Mas talvez, e eu não nego essa
possibilidade, talvez a vida dele fosse um pouco mais satisfatória. Talvez ele
poderia ter aquilo que quer, sem que o mundo tirasse isso dele. Vou tentar ser
o Dr. Jekyll por mais um tempo.
Além do mais, eu não tenho o tal soro. Ainda.
terça-feira, 15 de janeiro de 2013
Motivos pra se tornar uma Pessoa Melhor
Minha irmã está grávida, já há algum tempo. Nasce provavelmente em maio. Digo provavelmente porque nunca ninguém tem certeza. A gente mandou um cara pra Lua e não sabe quando exatamente uma criança vai nascer.
O caso é que eu vou ser, além de tio, o padrinho. E, além da felicidade trazida pela novidade, me veio uma preocupação: eu não sou o melhor exemplo de pessoa. Sou desleixado com minhas coisas (principalmente minha saúde), tenho uma meia dúzia de problemas mentais que devem estar listados em algum lugar, não tenho estabilidade econômica nem emocional, e nem sou o melhor dançarino de tango ou nadador.
Mas, às vezes, a necessidade nos faz tomar atitudes, nos empurra numa direção que não seguiríamos por conta própria. E assim, à medida que o tempo passa e o ano começa, eu vou fazendo o possível pra corrigir essas pequenas falhas, vou melhorando alguns aspectos da minha vida para os quais nunca dei atenção.
O que eu notei até agora é que dá pra fazer isso sem mudar quem você é. Esse é o grande medo que todo mundo tem. Será que, pra melhorar, você tem que se tornar uma pessoa completamente diferente? Mudar de amigos, mudar de casa, mudar suas influências? Eu descobri que cada um tira das influências aquilo que quer, mas o que faz toda a diferença é saber escolher o que vale à pena e o que não vale. Daqui a alguns anos eu vou ser a influência de alguém, e eu espero que essa pessoinha saiba tirar aquilo que importa.
Estou chegando lá. Ainda não sou completo, mas estou a caminho.
O caso é que eu vou ser, além de tio, o padrinho. E, além da felicidade trazida pela novidade, me veio uma preocupação: eu não sou o melhor exemplo de pessoa. Sou desleixado com minhas coisas (principalmente minha saúde), tenho uma meia dúzia de problemas mentais que devem estar listados em algum lugar, não tenho estabilidade econômica nem emocional, e nem sou o melhor dançarino de tango ou nadador.
Mas, às vezes, a necessidade nos faz tomar atitudes, nos empurra numa direção que não seguiríamos por conta própria. E assim, à medida que o tempo passa e o ano começa, eu vou fazendo o possível pra corrigir essas pequenas falhas, vou melhorando alguns aspectos da minha vida para os quais nunca dei atenção.
O que eu notei até agora é que dá pra fazer isso sem mudar quem você é. Esse é o grande medo que todo mundo tem. Será que, pra melhorar, você tem que se tornar uma pessoa completamente diferente? Mudar de amigos, mudar de casa, mudar suas influências? Eu descobri que cada um tira das influências aquilo que quer, mas o que faz toda a diferença é saber escolher o que vale à pena e o que não vale. Daqui a alguns anos eu vou ser a influência de alguém, e eu espero que essa pessoinha saiba tirar aquilo que importa.
Estou chegando lá. Ainda não sou completo, mas estou a caminho.
quinta-feira, 10 de janeiro de 2013
Grand Master
Esses dias eu fiz uma coisa que há muito tempo não fazia: joguei umas partidas de xadrez com um amigo. Eu acho que não fazia isso desde o quarto período, no longínquo 2007.
No xadrez, existe uma expressão que diz:
"Vence aquele que comete o penúltimo erro."
O xadrez foi considerado, por muito tempo, o
jogo que mais representava a realidade, longe dos "bancos imobiliários"
e "jogos da vida". Isso porque o adversário sempre lhe apresenta
resistência, por caminhos que você não reconhece de imediato, e porque o xadrez
leva em conta a desigualdade. As peças não têm, no jogo, o mesmo valor. E por
isso mesmo, eu vim a imaginar a minha Guerra, até o ponto em que ela se
encontra, como um jogo de xadrez.
Houve a fase em que eu jogava na defensiva, e
não saía do meu campo. Houve a fase da raiva, em que eu entregava todas as
minhas peças em sacrifícios inúteis, e houve a fase em que eu finalmente tinha
aprendido a tática para ganhar esse jogo: haja o que houver, siga a jogada que
você tem em mente. Você vai perder uma peça ou outra no caminho, mas no xadrez
não ganha quem tem mais peças, mas quem dá o xeque-mate; no final é tudo sobre
isso. Fazer a jogada que tem em mente, aconteça o que acontecer.
E é chegada a hora de eu aceitar perder
algumas peças, umas mais importantes do que outras, pra ganhar ou perder essa
Guerra. É sobre isso que queria falar. É chegada a hora de executar mais uma jogada,
de fazer o que treinei, aproveitando a invisibilidade: arriscar uma coisa que
não sei se vai dar certo, e perder umas peças no meu time.
Hora de ter amigos ao invés de empilhá-los.
Assinar:
Postagens (Atom)