segunda-feira, 16 de agosto de 2010

As Crônicas do Desaparecimento: Sinceridade

Conheci uma moça que sumiu, há algum tempo atrás. Ela ainda não era muito boa nisso. Mesmo assim, ela pegou suas coisas e foi pra longe de seus amigos.
A vida, naquele tempo, era muito boa para ensinar coisas, e ela, então, aprendeu. Aprendeu, em grande parte, a ver as coisas que estão ao seu redor. Aprendeu a ver aquilo que enxergava desde pequena. E durante seu tempo de desaparecida, ela sempre recebia mensagens de saudades, sempre acompanhadas de lembretes de que havia, e sempre haveria, um lugar para onde voltar.
Mas o destino, no seu caso, fez dela uma amante do pedestal onde havia subido, para admirar a paisagem do mundo. E quanto mais ela subia, quanto mais do todo ela via, mais encantada ela ficou por aquela vida. Ela seria capaz de vivê-la para sempre, mas no fundo do seu coração ela sempre guardava aquelas mensagens, aqueles desejos de boas vindas que custavam a vir, aquela celebração de laços incorruptíveis pela distância. Ela viveu algum tempo de sua nobreza solitária, até se rendeu algumas vezes às mensagens, mas em nenhum momento ela mentiu para si mesma. Em nenhum momento sequer ela esteve onde não deveria estar, pagando cada centavo dos preços que cada lugar cobrava.
Hoje ela ainda está sumida, e vive no topo daquele pedestal. Ela vê muito mais quando olha pela janela, e de lá pode ver o lugar de onde saiu - só alguns pequenos borrões, de uma figura da qual antes conhecia cada detalhe. Essa figura faz com que ela se reconheça, mas não faz dela o que ela é. Ela agora se caracteriza por estar distante, e no verso de cada recado de saudade, aprendeu a escrever o motivo de estar longe, o motivo que pode levar todos nós a arriscarmos o esquecimento: ser um pouco mais, sempre.

Um comentário:

Aline Fernandes disse...

Oi Jardel!

coloquei seu blog na minha listinha do selo "Esse blog me faz sorrir"... passa lá:

http://piensitasquecoiso.blogspot.com