Depois de um tempo, resolvi sumir também. E muita gente sabe que eu sou especialista nisso.
Embora sempre houvesse um lugar para alguém em meu coração, eu havia adquirido a capacidade de tornar esse vazio algo sem significado. As ideias que surgiam à partir desse lugar comum e afastado do meu corpo não se transformavam em ações. A última coisa que eu havia feito, baseado em meus sentimentos, foi sumir. Sumir e deixar o tempo fazer o seu trabalho. Foi quando me perguntaram se eu realmente vivia do jeito que eu queria. Pra mim, naquele tempo, não era questão do que eu queria, era questão de sobrevivência. Se minha parte emocional não podia ter uma vida, então minha vida racional teria. Assim, eu resolvi sumir também.
Enquanto sumi, caminhei muitas vezes na chuva, outras no meio da rua, vazia pela madrugada. Às vezes encontrei pessoas na rua, e passava por elas, com meu segredo no coração. Sabia eu que elas jamais reconheceriam os segredos que esse mundo guarda, nem mesmo o meu, pequeno como era. Eu tinha sumido, e embora elas me enxergassem, elas não me viam.
O grande risco de sumir dessa maneira é que não se sabe, às vezes, a hora certa de voltar. Na grande maioria das vezes, só fazemos isso para que as pessoas sintam nossa falta, mas no fundo temos medo de que elas não sintam. O verdadeiro motivo das pessoas sumirem não é esse. Não é um narcisismo exacerbado, ou a falta de reconhecimento, ou menos ainda a vontade de ficar sozinho. Quem some, sendo verdadeiro consigo mesmo, faz isso por ser a única forma de nos livrarmos dos preconceitos, de nos ligarmos ao mundo e retomarmos nosso cordão umbilical perdido, de subirmos nos pedestais da vida e vermos o todo, perdendo, devagar, os detalhes dos relacionamentos superficiais. Quem some, some porque quer ver, de fora, de onde viemos e o que somos.
"Quanto mais te elevares, verás do todo uma parte cada vez maior, ao ponto que os pormenores se desvanecerão."
Pensando nisso podemos saber, com certeza, quando chega a hora de voltar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário