segunda-feira, 14 de março de 2011

No Começo e No Fim

Sempre tenho comentado a forma como aproveito as minhas viagens. Cada ônibus que eu pego é como uma música que eu canto pra mim mesmo, e dividir certos momentos com estranhos me deixa, de certa forma, mais à vontade do que com conhecidos.
A mudança, por si só, me proporciona pensamentos que muitas vezes eu cheguei a deixar de lado, uma vez que chego ao meu destino, mas nada disso me impede de começar tudo denovo, quando chega a hora de voltar. Acho que essa é a melhor definição de casa: é pra onde eu vou quando digo: "É hora de voltar...". Enfim, nesse vai e vem em que a minha vida tem se resumido nos últimos (quase) cinco anos, alguns pensamentos me vinham preferencialmente enquanto eu esperava o ônibus partir, ou quando via, no céu noturno, os primeiros reflexos das luzes da cidade - do meu destino. E são esses pensamentos que sempre permanecem, quando entre uma viagem e outra, eu encontro asilo na residência fixa, nos acontecimentos de cada dia.
Eu falo dos motivos, das razões às vezes obscuras a mim mesmo, de ir de um lado para o outro. Falo das coisas que me motivam a ir pra onde as quatro rodas me levam, e dos lugares onde nenhum veículo do mundo poderia me levar. Falo daquilo que me impele, que me chama em cada lugar onde, vez ou outra, me vejo chegando sem saber porque, sem pensar muito sobre isso. Falo das pessoas - de uma dúzia de pessoas que são importantes pra mim, das que estão ao meu alcance, das que eu ajudei tantas vezes quando ninguém mais podia. Eu falo daquilo que aprendi com todas elas, e da mais cruel e absoluta verdade: você jamais se tornará importante pra quem ajudar, principalmente quando se é o único que pode fazê-lo, mas para aquele que ajuda, uma marca e uma cicatriz são feitas, e elas duram eternamente: assim nasce a importância e o zelo.
Eu falo disso porque fiz coisas pra muita gente, durante toda a minha vida - coisas que apenas eu seria capaz de fazer, e isso não me fez importante, mas tornou muita gente importante pra mim. E nesse momento, já passados tantos anos, eu sei que não há uma só pessoa no meu planeta, nos pontos finais de nenhuma de minhas jornadas, no começo e no fim, que possa me retribuir por tudo aquilo. Esse é o preço que se paga por fazer pelas pessoas aquilo que elas não podem fazer sozinhas.
Esse é o preço que se paga por não poder pedir.

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