sexta-feira, 2 de abril de 2010

A Memória da Tempestade (Parte 3)

Certas lições são muito mais facilmente aprendidas quando não se conhece o rosto do mestre. Isso impede que haja qualquer preconceito por parte do discípulo. Alguns ensinamentos, no entanto, são muito mais difíceis do que se imagina.
“Existem dois tipos de pessoa no mundo: as que acreditam no que sabem, e as que acreditam no que temem. Cuidado com o tipo de pessoa que quer ser.”
“É muito fácil dizer: ‘Eu tenho um sonho’. Todos têm. O que fará se eu apontar para ele e disser: ‘Comece a agir’?”
Entre coisas para se pensar, o rapaz descobriu uma verdade cruel: seu mestre tinha os dias contados. Não se sabia quando, embora em breve, mas ele iria morrer. O peso da sua responsabilidade idiota já não era nada comparado àquilo - era agora só uma tola mocinha igual a todas as outras. Não adiantaria tentar prepará-la para o mundo sem que ela mesma o enfrentasse. Aquele pequeno mestre, de quase quinze anos, estava fazendo isso em cada dia da sua vida. E o rapaz, lembrando-se do sofrimento de seu mestre, se lembrava da chuva, da noite sob a marquize; de um tempo em que aquilo que morria não havia sequer nascido – de um tempo em que ele ainda não tinha a cicatriz na sobrancelha, e os raios cortavam o céu. Naquela noite havia aprendido o verdadeiro significado do egoísmo: Ele só queria ir pra casa, só queria que a chuva parasse, mas ela não parou. Essa era a verdade maior da sua vida – sempre que se ele tinha um pensamento no mínimo egoísta, o mundo cuidava para que ele fosse arrebatado. Os seus desejos foram, aos poucos, de distanciando de seus objetivos – agora o seu mestre estava morrendo.
No fim do inverno, no último dos anos de seu mestre, o rapaz resolveu subir a montanha, até a rodovia, pela última vez.
Um carro chegou onde ele estava, e um menino fraco desceu, com um casaco vermelho muito maior do que ele. O rapaz havia seguido seus ensinamentos até agora, e finalmente estava pronto para ouvir o último deles. (continua).

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