sexta-feira, 2 de abril de 2010

Dez

O ônibus balança, e eu estou voltando. Lá fora chove, e de dentro dele dá pra ver os raios. Não me lembro desde quando passei a integrar a parte fácil da equação.
Enfim, estava lá, olhando pra frente, e não conseguia dormir como de costume, e como alguém que não consegue dormir, comecei a pensar. Já vi muita gente perdida no espaço por aí, mas eu acabei me perdendo no tempo, nessa viagem. Não sabia que horas eram, que dia era ou quanto tempo tinha passado fora. A única coisa da qual tinha certeza era de que, seja lá o que eu tenha sido antes, ficou pra trás sem que eu pudesse perceber.
Foi nesse espírito que o ônibus chegou à rodoviária, onde eu desci e fui me sentar, esperando a chuva passar. Eram, nesse momento, 22h20min do dia 21 de março de 2010. Eu havia me localizado, enfim. Não havia táxis, mas pessoas esperando por eles, então fiquei por ali.
Brincando com a alça da mala, olhando para os dois lados, perigosamente sozinho. Digo perigosamente porque minha mente estava, naquele momento, completamente desocupada – e isso é um baita mau sinal. Deu vontade de voltar ao guichê e comprar uma passagem para outro lugar, para tentar ver o que sou capaz de fazer com minha nova forma de ver o mundo. De que serve uma lição se você não pode botá-la em prática? Foi aí que lembrei que já tinha falado disso com alguém. Alguém com quem aprendi muita coisa, mas apenas na sua ausência eu pude realmente pôr em prática. Perto dos nossos mestres nós nunca vamos nos acostumar a saber o que temos que fazer.
Olhei novamente o relógio da rodoviária, e eram 22h30min. Em dez minutos, todo um pensamento me levando de volta ao ônibus chegou e passou. Lá fora, a chuva havia diminuído, e embora ainda pudesse me molhar um pouco, me pus a caminho de casa passando pelas pessoas que ainda esperavam os táxis. Elas, ignorantes, jamais saberão da verdade que acabara de descobrir: Perto dos nossos mestres nós nunca vamos saber o que temos que fazer. Ainda assim, foi bom voltar a ver o vilarejo das pessoas que viram a nossa despedida, aquelas que souberam a diferença entre o amor que sonhamos e o amor que vivemos.
Felizmente acho que elas já foram experimentá-lo.
“Guardar na memória é tudo o que você tem.”

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