segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Os Primeiros Quinze Minutos

"De tudo um pouco". Essa foi a sensação que emanava de uma rodoviária, perdida no mundo. Um pacto que foi feito por uma razão que já não mais se fazia presente, chegava ao fim.
De tudo um pouco, pelo fato de que aquela seria a última vez que um evento fantástico aconteceria, e todo o Universo parecia olhar para aquela porta de ônibus, onde apenas duas pessoas compreenderiam a maravilha do nascimento de uma nova vida, e a fatal imponderabilidade do tempo correndo.
Na minha mão, um envelope. Nas mãos dela, uma mala. Tinha que ser assim, pois foi esse o acordo. Aquilo que acontecera tantas vezes nos últimos seis meses, agora estava acontecendo pela última vez. E era irremediável. E era fantástico. Ambos completamos nossa parte na vida um do outro: nossa parte em um acordo sagrado. Ônibus sempre demoram para chegar, mas nunca para ir embora. Tudo um pouco foi embora, e numa única respiração se foi todo o resto: a ansiedade, a agonia, até a tristeza. Para aquelas pessoas ao redor, que haviam reconhecido a doce despedida que havia se iniciado - e por fim tecia seus últimos fios - a face nova do mundo ludibriava e eternecia. Nascia uma pequena vila de pessoas que sabiam que o mundo não é só trevas e luz: havia um meio termo e ele estava ali. As trevas do adeus misturadas à luz de o quanto ela havia os modificado.
E foi assim: eu a havia mostrado como as coisas funcionam, e sob quais regras somos formados, e ela havia me mostrado o quanto nem lógica nem sentimento podem ser fontes seguras. É preciso uma mente para mediar ambos.
Voltei pra casa, nos primeiros quinze minutos, e cada rua, cada esquina, assumiam em si uma importância colossal. Cada segundo agora era testemunha de um homem transfigurado pela vida, e pelas suas reviravoltas. Um sonho morreu, e outro veio assumir seu lugar. Agora existem armas para lutar por ele: uma cidadela há de ser reconstruída para abrigá-lo.
Quando cheguei, abri o envelope. No último parágrafo dizia: "Agora não somos os mesmos de quando começamos, e é isso o que significa. Você cumpriu sua parte, e me mostrou o que eu precisava ver. E você pode não achar, mas eu cumpri a minha. Agora você tem um outro mundo, e você se tornou uma pessoa melhor, sem sequer perceber."
Era tudo o que eu precisava ouvir.

Um comentário:

Leila Romano disse...

Adorei fazer parte disso, cara.
Nos meus primeiros quinze minutos só vi a cidade indo embora. Aliás, eu acho esse o seu melhor texto até agora! amooooo S2