segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Sol Vermelho

Fazendo as minhas contas, percebi que já viajei de ônibus o suficiente para ir de Viçosa à Nova York, nesses últimos quatro anos.
E saber que viajei tanto assim me fez lembrar do tempo que eu passo nas rodoviárias. A minha ficha geralmente cai enquanto eu espero um ônibus chegar. Depois de tanto tempo, haverão de concordar, se pega a prática de se arrumar algo pra fazer, enquanto se espera. Depois de tanto tempo, isso passou a fazer parte de mim: encontrar inspiração pra viver, na expectativa que uma rodoviária proporciona. A certeza de que se está prestes a mudar de ares novamente.
Hoje em dia, o sol fica avermelhado no fim da tarde. Isso, além de meio anormal, nos dá a impressão de tempo seco e calor. Sob um sol avermelhado, se pondo no horizonte, fui comprar minha passagem de volta. De volta para algum lugar. E enquanto eu ía a caminho do guichê, me lembrava de Nova York, e me lembrava que, embora fossem ídas e voltas, cada passagem me levava pra longe de um lugar comum. Embora durante cada uma dessas ídas e voltas que me fizeram um homem da estrada, eu nunca tivesse saído de uma pequena região de Minas, a cada giro da roda que me leva eu vou me afastando; vou me afastando de uma idéia. Agora eu estou tão longe dela quanto Nova York está de Viçosa. E eu lhe mando um beijo, que deve chegar amanhã. Ele vem do outro lado do mundo.
Essa distância tem ganhado, com o tempo, uma grande importância pra mim, e por mais que uma simples idéia não possa causar nenhum mal, sempre tive medo de agir. Se houvesse algo de humano em mim, quando ía para o guichê e via o ônibus certo saíndo da rodoviária, para onde eu deveria ir, só que sem mim, eu deveria ter corrido, tê-lo pego, e adicionado mais alguns quilômetros pra longe de Viçosa, só que pra mais perto daquela velha idéia. Sorte minha não ser tão humano, e não ser essa a minha maneira de lidar com essas questões.
Eu passei a entender que cada um tem seus próprios problemas, e sua maneira de lidar com eles. Eu talvez seja a pessoa mais estragada que eu conheço, mas também sou a que mais viajou.

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