quinta-feira, 8 de julho de 2010

O Sacrifício

Era domingo, e como há muito tempo não fazia, ao cair da tarde saí de casa pra ir até a padaria. O trajeto de ida é, basicamente, ladeira abaixo.
Lá de cima, sempre que fazia isso, eu costumava fitar o horizonte. Lá de cima dava pra ver as montanhas, lá longe, com gente morando nos bairros mais afastados do meu. Naquele domingo, as luzes das ruas já tinham se acendido, e o inverno mostrava sua presença escurecendo tudo, em plenas cinco e meia da tarde. O céu emitia um delicioso contraste entre o azul se tornando anil, nas partes mais altas, e ali, pertinho do horizonte, uma pequena faixa laranja lembrava o dia que havia se passado. O sol brilhava sobre o Pacífico, e eu via aquelas luzes da cidade, como um eclipse ao longe, me privando dele.
Um sacrifício. Sempre antes de um sacrifício temos a sensação de que ele não valerá a pena. Sempre deixamos para abandonar, no último minuto, a fé de que tudo pode continuar como está. Eu estava assim, prestes a fazer um sacrifício, e vendo pra todo lado os sinais de que ele não valeria a pena. Queria que tudo continuasse como está. Mas aí eu vi aquela faixinha laranja de sol, e me lembrei do Pacífico. Me lembrei que o mundo é um lugar muito grande. De repente, parei de pensar no sacrifício, e nas coisas que eu vou perder se não valer à pena. As coisas que eu devo ganhar me vieram à mente, e talvez elas valham à pena.
E mesmo se der errado, eu ainda tenho um mundo todo pela frente.
Vou fazer um sacrifício, ainda esse mês. E mesmo se der errado ainda valerá a pena.

Nenhum comentário: