domingo, 5 de julho de 2009

A Estranha

Mais uma semana foi embora, e eu estou sozinho.
Essa é uma das vantagens de ser o único a ficar em Viçosa no início das férias, e tentar aproveitar o final, enquanto o resto da Universidade resolve aproveitar desde o início. De fato, talvez não todo o campus, mas o Departamento de Física é meu.
Nessa época eu passo semanas inteiras sem ver um rosto amigo, e o meu grave defeito de analisar as pessoas torna-se mais evidente. Foi nessa época, mais ou menos a uma semana, que eu tive contato com aquela mulher.
O DPF normalmente fica trancado aos sábados, e só quem tem a chave consegue entrar. Quando eu já ía pra casa, ela estava do lado de fora, tentando entrar. Estava procurando um professor. Como eu tinha a chave, decidi que iria acompanhá-la pelo prédio, depois ajudá-la a sair dele. O professor, ao que parece, não estava lá.
O caminho de volta, então, foi uma reta inteira dela falando e eu ouvindo, do jeito que costuma ser.
Ela me contou a história da filha dela, que é bolsista do CNPq (a mesma instituição que me financia) na oitava série, e que ela é muito inteligente, mas precisa, às vezes, ser cobrada. E enquanto a gente ia conversando unilateralmente, eu percebia o monstro que tinha me tornado, pois enquanto meus ouvidos ouviam o que ela dizia, meu cérebro tirava da mente dela a verdade. Eu sabia, todo o tempo, selecionar exatamente aquilo que era certo e o que era errado no que ela falava. E eu, ao mesmo tempo, lembrava da minha mãe. Lembrava o quanto a história daquela menina, e da sua mãe faladeira, havia sido aquilo da qual eu tinha me livrado.
Eu era um fenômeno, lia e escrevia desde muito cedo, aprendia qualquer coisa com uma facilidade incrível. Com certeza, eu poderia ser famoso hoje, poderia ter entrado pra universidade muito mais cedo, e talvez até já tivesse um doutorado. Não foi assim porque minha mãe não deixou.
E graças a ela, agora, eu conheço todas essas pessoas maravilhosas que conheço aqui, hoje. Não trocaria o que sou agora por mil diplomas. Graças a atitudes a tanto tempo esquecidas, que naquela conversa com uma estranha voltaram à minha mente, é que hoje eu posso dizer da liberdade que eu sinto pra fazer o que eu quizer, pra ser o que eu bem entender, e se eu entendo. Por causa da minha mãe eu não sou um animal de zoológico, e posso usar minha capacidade para as MINHAS grandes coisas.
Especial não tem nada a ver com ser melhor do que os outros, mas fazer suas ações se destacarem entre os estranhos.

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