segunda-feira, 16 de abril de 2012

Noventa Dias no Espaço

Quando alguém consegue descrever sua vida em uma frase, talvez haja algo de errado. Ninguém se imagina tão limitado na sua existência, mas muitas vezes alguém que está do lado de fora realmente consegue ver as coisas de maneira mais clara.
"Você é um farol. Quando as coisas vão mal as pessoas gostam de contar com você, e você está sempre ao lado delas. Mas quando a escuridão se vai e o sol aparece, você nunca está lá."
Com essa meia verdade nas mãos, eu não sabia até onde ela alcançava. O caso é que, desde que eu tinha ouvido isso, até algumas semanas atrás, tudo o que eu podia fazer era pensar sobre o assunto. Foi quando me apareceu a oportunidade de testar: alguns compromissos, e um belo de um acidente com óleo quente, fizeram de Vice City um exílio digno dos velhos tempos. Além da uma dúzia de pessoas que convive comigo diariamente, ligadas a mim por laços profissionais, fiquei noventa dias sem ver mais ninguém. Não visitei Belo Horizonte, não visitei Rio Pomba. Noventa dias de Vice City.
Nesses noventa dias, meu aniversário passou, um dos meus backups falhou e está me fazendo redigitar as 112 páginas do livro (a partir do pdf), e eu cuidei da minha vida, e só dela. Por três meses, o farol havia se apagado.
Nesse interim eu me lembrava de que quanto mais escuras as nuvens, mais forte eu sou, e pra onde eu olhava eu via céu azul. A felicidade, por algum tempo, me irritou. Eu descobri que tenho direito de me sentir um completo inútil em tempos de paz, e aos poucos eu deixei de me importar com isso: fui encontrando o lado bom de não ter que ajudar ninguém. Não era preciso ajudar ninguém e, por mais terrível que possa parecer, não me sentia mal por isso. Por isso eu voltei. Voltei e encontrei minha meia dúzia de pessoas importantes, de volta a alguns lugares, telefonando para outros.
E eu ouvia do outro lado da linha uma moça falando de boas lembranças vividas comigo, no tempo em que dividíamos o mesmo teto com uma família quebrada.
E eu via uma irmã brava por eu ainda não conseguir conciliar todos os aspectos da minha vida: há pessoas importantes em cada um deles que merecem o devido crédito, e há aquelas que simplesmente fazem um excelente trabalho em me manter vivo.
E eu sentia numa guria em meus braços o ódio por ter sentido saudade; em mim só ficou o sorriso magro de alguém que descobriu a falha na teoria. Dessa vez ela não precisava de mim, ninguém precisava de mim, mas eu estava lá.
Estou aprendendo a iluminar durante o dia.

Um comentário:

Anna Cristina disse...

nossa! a muito tempo eu não dou uma passadinha aqui nos diários!
só queria falar que nessa eu chorei. T.T
abraços!